sexta-feira, 24 de maio de 2013

Prevenção da violência no namoro

Recentemente foi publicado um estudo que transmite algo muito preocupante: a maioria dos jovens acha que a violência no namoro é normal. Sabemos que este problema existe na nossa escola e decidimos esclarecer alguns pontos que nos parecem fundamentais.



Alunos: Porque é que há cada vez mais violência nos namoros de adolescentes?

Psicóloga: Apesar de ser mais divulgada hoje em dia pela comunicação social, a violência no namoro sempre existiu. Atualmente, os jovens estão cada vez mais informados e muitos já não aceitam ser vítimas de violência, denunciando cada vez mais os episódios que vivem.

Têm surgido estudos sobre este tema um pouco por todo o mundo e, recentemente, foi publicado um estudo na Universidade do Minho, onde referem que um em cada quatro jovens dos 13 aos 29 anos diz já ter sofrido este tipo de agressão.

Alunos: Porque razão existe violência no namoro entre adolescentes de hoje?

Psicóloga: Quando há violência no namoro, um dos parceiros exerce poder e controlo sobre o outro, causando sofrimento físico, psicológico ou sexual. Antigamente pensava-se que este tipo de violência existia apenas no casamento, mas hoje já se sabe que também existe no namoro, ainda que de forma mais dissimulada. Este tipo de violência não escolhe idades, religiões, etnias ou culturas. Não existe apenas em casais heterossexuais, existe também em casais homossexuais. Apesar de sabermos que são mais os homens a agredir as mulheres, o contrário também acontece.

Alunos: Porque é que a maior parte das vítimas são sempre do sexo feminino?

Psicóloga: Os rapazes e as raparigas são educados de formas diferentes e, sem se aperceberem disso, ficam presos a alguns estereótipos relacionados com o género. Erradamente, os rapazes são educados para pensar que têm o direito de decidir pela namorada, que ser homem é ser agressivo, não chorar, não mostrar fraqueza e conseguir atingir objectivos através da força. Por outro lado, as raparigas aprendem a interpretar as crises de ciúme como prova de amor, a achar que são sempre culpadas quando a relação corre mal e que a submissão é uma forma de garantir que o namoro vai continuar.

Alunos: O que fazer se houver violência no namoro? Quando há violência no namoro a vítima deve “queixar-se” a alguém ou manter tudo em segredo? Porquê?

Psicóloga: É fundamental que percebam que a agressão nunca pode ser encarada como forma de amor, mas sim exactamente o contrário. A agressão é uma forma de faltar ao respeito e a primeira coisa a fazer é pedir ajuda.

Alunos: Há uma linha telefónica com informações e auxílio?

Psicóloga: Sim, existem vários serviços de apoio, todos gratuitos e confidenciais:

Linha de Emergência Nacional – nº 144 (24h por dia, serviço de apoio gratuito, que proporciona alojamento e encaminha para os recursos da comunidade);

Linha Telefónica de Informação às Vítimas de Violência Doméstica – 800 202 148 (24h por dia, serviço de informação);

Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM) – 217 983 000 (9h30-17h30, serviço de informação e consulta jurídica);

União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) – 218 867 986 (atendimento, apoio e acolhimento a mulheres vítimas de violência).

Alunos: Qual é o interesse do parceiro bater ao seu parceiro? Porque é que lhe bate? Tem alguma influência na sua relação? Se há namoro? Porque é que eles agridem a companheira?

Psicóloga: Depende sempre do caso em questão e não podemos generalizar. No entanto, sabemos que há pessoas que crescem em ambientes familiares onde se aprende a comunicar através da violência e não do diálogo. Esses jovens não aprenderam a dar carinho, têm dificuldade em lidar com as frustrações da vida e não sabem resolver os problemas de outra forma. Tal como as vítimas, também os agressores precisam de ajuda.

Alunos: A pessoa que é vítima deve falar com o agressor ou ir logo pedir auxílio?

Psicóloga: Em situação de conflito, os jovens devem conversar sobre o assunto e tentar chegar a um acordo. Perante uma situação de violência pontual, a vítima deve conversar com o agressor, mostrar que ele precisa de ajuda e deixar bem claro que não admite que o caso se repita. No dia-a-dia, é importante saber mostrar ao outro quando é que este está a pisar o risco e a chegar ao limite. Perante uma situação de violência repetida, seja física ou psicológica, limitar-se a conversar, optar pela submissão ou desvalorizar o episódio apenas vai adiar a solução do problema. Se nada for feito, é muito provável que a violência se torne um hábito e que aumente com efeito bola de neve. A violência é um crime e deve ser encarada como tal.

Alunos: Porque razão é que a pessoa agredida mantém tudo em segredo? Porque é que as raparigas que sofrem de violência no namoro não denunciam os namorados? Porque é que nos namoros onde existe violência as namoradas não dizem “não” ao namorado?

Psicóloga: Apesar de reprovarem a violência em geral, ainda existem muitos adolescentes que a aceitam em situações específicas. Muitas adolescentes encaram-na como forma de amor quando surge associada ao ciúme e, por isso, têm mais tendência para adiar o momento em que decidem denunciar a situação. Outras adolescentes acreditam que o amor vence tudo e que o namorado vai acabar por mudar. Também há adolescentes que se sentem incapazes de viver sem namorado, preferindo ter um namorado violento do que não ter namorado nenhum. Além disso a vergonha, o sentimento de culpa e o medo também podem contribuir para que continuem a manter tudo em segredo. Outro factor que pode contribuir para manter tudo em segredo é a dificuldade em associar certos comportamentos à violência. Dar murros, pontapés e bofetadas é violência, mas humilhar, insultar, intimidar, controlar, perseguir e denegrir a imagem também são formas de violência no namoro. Ninguém tem a obrigação de passar por estas situações e uma relação de namoro não envolve violência mas sim amor, carinho e preocupação com o bem-estar do outro. Isto não significa que não tenham que surgir conflitos, já que estes ajudam a relação a crescer, a tornar-se mais sólida e a ganhar maturidade, isto apenas significa que os conflitos podem e devem ser resolvidos através do diálogo.

Alunos: Se soubermos de algum caso, como podemos ajudar?

Psicóloga: Se tiverem alguma amiga (ou amigo) que esteja nesta situação, a primeira coisa que devem fazer é conversar com ela (e) no sentido de perceberem até que ponto essa pessoa reconhece que é vítima de violência. É muito importante que lhe mostrem que a violência é um crime e que é urgente procurar a ajuda de um adulto. Aqui na escola, por exemplo, podem dirigir-se ao Gabinete de Apoio à Comunidade Educativa (GACE), onde existe uma psicóloga e uma assistente social. Estamos disponíveis para ajudar e garantimos a confidencialidade.

Alunos: De que forma poderiam ser punidos os agressores? Há alguma cura?

Psicóloga: A forma como são punidos os agressores depende do caso. O primeiro passo é pedir ajuda junto de adultos com quem tenham uma relação de confiança, na escola ou através do contacto telefónico com uma linha de apoio. Também devem apresentar queixa num posto da PSP ou GNR.

Segundo o código penal, o artigo 143º define que uma ofensa à integridade física simples (exemplo: bater) pode implicar uma pena de prisão de 3 anos. Quando a agressão aparece associada a comportamentos mais graves, como desfigurar o corpo da outra pessoa ou deixá-la incapacitada a pena de prisão pode chegar aos 10 anos.

A cura também depende da situação e do percurso de vida do agressor. Em primeiro lugar, terá de ser feita uma avaliação psicológica do agressor, uma intervenção psicoterapêutica ao jovem e, na maior parte dos casos, também a toda a família que convive com ele. Também a vítima precisa de acompanhamento e, na maior parte dos casos, o apoio psicoterapêutico faz parte do tratamento pois a violência no namoro acarreta marcas psicológicas profundas.

Alunos: Qual é o estado de espírito de uma pessoa que é agredida pelo companheiro?

Psicóloga: A violência no namoro tem consequências físicas e psicológicas. As marcas mais óbvias são as físicas e estão directamente associadas à agressão: nódoas negras, queimaduras feitas com pontas de cigarro, golpes feitos com objectos cortantes e dores no corpo. Depois existem marcas psicológicas que estão associadas ao facto de se tratar de uma situação traumatizante: nervosismo e ansiedade, tristeza, baixa auto-estima, isolamento e um profundo sentimento de culpa. Tudo isto leva a vítima a investir menos em si, a baixar os resultados escolares e, em casos extremos, pode levar ao aparecimento de depressões graves ou mesmo ao suicídio. Indirectamente, a violência no namoro pode ainda potenciar comportamentos de risco que aumentam a probabilidade de contrair uma infecção sexualmente transmissível ou de uma gravidez indesejada. Uma adolescente que é vítima de agressão tem geralmente mais dificuldade em dizer “não”, estando mais exposta a este tipo de situações.

Alunos: Se há violência no namoro isso é uma relação boa?

Psicóloga: Uma relação onde há violência no namoro nunca é uma boa relação. A violência é um crime punível por lei e todos temos o direito de ter relações gratificantes, com igualdade e respeito mútuo, onde somos amados e valorizados.

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