Alunos: Porque é que há cada vez mais
violência nos namoros de adolescentes?
Psicóloga: Apesar de ser mais divulgada hoje em dia pela comunicação
social, a violência no namoro sempre existiu. Atualmente, os jovens estão cada
vez mais informados e muitos já não aceitam ser vítimas de violência,
denunciando cada vez mais os episódios que vivem.
Têm surgido estudos sobre este tema um pouco por todo o mundo e, recentemente,
foi publicado um estudo na Universidade do Minho, onde referem que um em cada
quatro jovens dos 13 aos 29 anos diz já ter sofrido este tipo de agressão.
Alunos: Porque razão existe violência
no namoro entre adolescentes de hoje?
Psicóloga: Quando há violência no namoro, um dos parceiros exerce poder e
controlo sobre o outro, causando sofrimento
físico, psicológico ou sexual. Antigamente pensava-se que este tipo de
violência existia apenas no casamento, mas hoje já se sabe que também existe no
namoro, ainda que de forma mais dissimulada. Este tipo de violência não escolhe
idades, religiões, etnias ou culturas. Não existe apenas em casais heterossexuais,
existe também em casais homossexuais. Apesar de sabermos que são mais os homens
a agredir as mulheres, o contrário também acontece.
Alunos: Porque é que a maior parte
das vítimas são sempre do sexo feminino?
Psicóloga: Os rapazes e as raparigas são educados de formas diferentes e,
sem se aperceberem disso, ficam presos a alguns estereótipos relacionados com o
género. Erradamente, os rapazes são educados para pensar que têm o direito de
decidir pela namorada, que ser homem é ser agressivo, não chorar, não mostrar
fraqueza e conseguir atingir objectivos através da força. Por outro lado, as
raparigas aprendem a interpretar as crises de ciúme como prova de amor, a achar
que são sempre culpadas quando a relação corre mal e que a submissão é uma
forma de garantir que o namoro vai continuar.
Alunos: O que fazer se houver
violência no namoro? Quando há violência no namoro a vítima deve “queixar-se” a
alguém ou manter tudo em segredo? Porquê?
Psicóloga: É fundamental que percebam que a agressão nunca
pode ser encarada como forma de amor, mas sim exactamente o contrário. A
agressão é uma forma de faltar ao respeito e a primeira coisa a fazer é pedir
ajuda.
Alunos: Há uma linha telefónica com
informações e auxílio?
Psicóloga: Sim, existem vários serviços de apoio, todos gratuitos e
confidenciais:
Linha de Emergência Nacional – nº 144 (24h por dia, serviço de
apoio gratuito, que proporciona alojamento e encaminha para os recursos da
comunidade);
Linha Telefónica de Informação às Vítimas de Violência Doméstica –
800 202 148 (24h por dia, serviço de informação);
Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (CIDM) –
217 983 000 (9h30-17h30, serviço de informação e consulta jurídica);
União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) – 218 867 986
(atendimento, apoio e acolhimento a mulheres vítimas de violência).
Alunos: Qual é o interesse do
parceiro bater ao seu parceiro? Porque é que lhe bate? Tem alguma influência na
sua relação? Se há namoro? Porque é que eles agridem a companheira?
Psicóloga: Depende sempre do caso em questão e não podemos generalizar.
No entanto, sabemos que há pessoas que crescem em ambientes familiares onde se
aprende a comunicar através da violência e não do diálogo. Esses jovens não
aprenderam a dar carinho, têm dificuldade em lidar com as frustrações da
vida e não sabem resolver os problemas de outra forma. Tal como as vítimas,
também os agressores precisam de ajuda.
Alunos: A pessoa que é vítima deve falar
com o agressor ou ir logo pedir auxílio?
Psicóloga: Em situação de conflito, os jovens devem conversar sobre o
assunto e tentar chegar a um acordo. Perante uma situação de violência pontual,
a vítima deve conversar com o agressor, mostrar que ele precisa de ajuda e
deixar bem claro que não admite que o caso se repita. No dia-a-dia, é
importante saber mostrar ao outro quando é que este está a pisar o risco e a
chegar ao limite. Perante uma situação de violência repetida, seja física ou
psicológica, limitar-se a conversar, optar pela submissão ou desvalorizar o
episódio apenas vai adiar a solução do problema. Se nada for feito, é muito
provável que a violência se torne um hábito e que aumente com efeito bola de
neve. A violência é um crime e deve ser encarada como tal.
Alunos: Porque razão é que a pessoa
agredida mantém tudo em segredo? Porque é que as raparigas que sofrem de
violência no namoro não denunciam os namorados? Porque é que nos namoros onde existe violência as namoradas não dizem
“não” ao namorado?
Psicóloga: Apesar de reprovarem a violência em geral, ainda existem
muitos adolescentes que a aceitam em situações específicas. Muitas adolescentes
encaram-na como forma de amor quando surge associada ao ciúme e, por isso, têm
mais tendência para adiar o momento em que decidem denunciar a situação. Outras
adolescentes acreditam que o amor vence tudo e que o namorado vai acabar por
mudar. Também há adolescentes que se sentem incapazes de viver sem namorado,
preferindo ter um namorado violento do que não ter namorado nenhum. Além disso
a vergonha, o sentimento de culpa e o medo também podem contribuir para que
continuem a manter tudo em segredo. Outro factor que pode contribuir para
manter tudo em segredo é a dificuldade em associar certos comportamentos à violência.
Dar murros, pontapés e bofetadas é violência, mas humilhar, insultar,
intimidar, controlar, perseguir e denegrir a imagem também são formas de
violência no namoro. Ninguém tem a obrigação de passar por estas situações e
uma relação de namoro não envolve violência mas sim amor, carinho e preocupação
com o bem-estar do outro. Isto não significa que não tenham que surgir
conflitos, já que estes ajudam a relação a crescer, a tornar-se mais sólida e a
ganhar maturidade, isto apenas significa que os conflitos podem e devem ser
resolvidos através do diálogo.
Alunos: Se soubermos de algum caso,
como podemos ajudar?
Psicóloga: Se tiverem alguma amiga (ou amigo) que esteja nesta situação,
a primeira coisa que devem fazer é conversar com ela (e) no sentido de perceberem
até que ponto essa pessoa reconhece que é vítima de violência. É muito
importante que lhe mostrem que a violência é um crime e que é urgente procurar a
ajuda de um adulto. Aqui na escola, por exemplo, podem dirigir-se ao Gabinete
de Apoio à Comunidade Educativa (GACE), onde existe uma psicóloga e uma
assistente social. Estamos disponíveis para ajudar e garantimos a confidencialidade.
Alunos: De que forma poderiam ser
punidos os agressores? Há alguma cura?
Psicóloga: A forma como são punidos os agressores depende do caso. O
primeiro passo é pedir ajuda junto de adultos com quem tenham uma relação de
confiança, na escola ou através do contacto telefónico com uma linha de apoio.
Também devem apresentar queixa num posto da PSP ou GNR.
Segundo o código penal, o artigo 143º define que uma ofensa à integridade
física simples (exemplo: bater) pode implicar uma pena de prisão de 3 anos.
Quando a agressão aparece associada a comportamentos mais graves, como
desfigurar o corpo da outra pessoa ou deixá-la incapacitada a pena de prisão
pode chegar aos 10 anos.
A cura também depende da situação e do percurso de vida do agressor. Em
primeiro lugar, terá de ser feita uma avaliação psicológica do agressor, uma
intervenção psicoterapêutica ao jovem e, na maior parte dos casos, também a
toda a família que convive com ele. Também a vítima precisa de acompanhamento
e, na maior parte dos casos, o apoio psicoterapêutico faz parte do tratamento
pois a violência no namoro acarreta marcas psicológicas profundas.
Alunos: Qual é o estado de espírito
de uma pessoa que é agredida pelo companheiro?
Psicóloga: A violência no namoro tem consequências físicas e
psicológicas. As marcas mais óbvias são as físicas e estão directamente
associadas à agressão: nódoas negras, queimaduras feitas com pontas de cigarro,
golpes feitos com objectos cortantes e dores no corpo. Depois existem marcas
psicológicas que estão associadas ao facto de se tratar de uma situação
traumatizante: nervosismo e ansiedade, tristeza, baixa auto-estima, isolamento
e um profundo sentimento de culpa. Tudo isto leva a vítima a investir menos em
si, a baixar os resultados escolares e, em casos extremos, pode levar ao
aparecimento de depressões graves ou mesmo ao suicídio. Indirectamente, a
violência no namoro pode ainda potenciar comportamentos de risco que aumentam a
probabilidade de contrair uma infecção sexualmente transmissível ou de uma
gravidez indesejada. Uma adolescente que é vítima de agressão tem geralmente
mais dificuldade em dizer “não”, estando mais exposta a este tipo de situações.
Alunos: Se há violência no namoro
isso é uma relação boa?
Psicóloga:
Uma relação onde há violência no namoro nunca é uma boa relação. A violência é
um crime punível por lei e todos temos o direito de ter relações gratificantes,
com igualdade e respeito mútuo, onde somos amados e valorizados.
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